Quando a pequena lasca de cobre caiu ao chão, o som ecoou suavemente pela oficina silenciosa. A peça brilhou brevemente sob a luz, como se pressentisse o futuro que lhe aguardava. Logo, mãos cuidadosas começaram a dar-lhe forma, com cada golpe e curva despertando algo novo naquela pequena e simples lasca de metal. Um semblante alegre começou a emergir, um sorriso tímido e olhos curiosos esculpidos com precisão.
A figura de cobre logo se completou, revelando um pequeno garoto radiante, suas feições leves e cheias de vida. Em um instante, ele piscou, tomando consciência de si mesmo, como se o próprio ato de ser moldado tivesse lhe dado uma centelha de existência.
- Uau, realmente ganhei uma chance de existir - exclamou, maravilhado, sentindo o peso de sua nova vida com pura alegria.
O Garoto Alegre sentiu uma sensação estranha, uma mistura de atração e propósito. Embora tivesse apenas alguns segundos de existência, um impulso o guiava firmemente. Ele sabia para onde deveria ir. O caminho levou-o por uma pequena vila coberta de brilho metálico até uma casa feita de puro cobre, onde cada detalhe – desde o teto até a porta – reluzia sob o tom dourado do crepúsculo, irradiando um calor acolhedor.
Ao entrar na casa, viu três figuras sentadas em volta de uma mesa oval, cujas bordas cintilavam com a mesma cor bronzeada de suas peles. Eles o observavam atentamente – Cansado de Cobre, com olhos semi-abertos e expressão de quem já presenciara longos dias; Sério de Cobre, com olhar severo e gestos meticulosos; e Triste de Cobre, cujo semblante era marcado por uma expressão serena, porém melancólica.
- Aguardávamos sua chegada, Alegre de Cobre - disse o Triste de Cobre, com um aceno solene.
O Garoto Alegre, ainda com um sorriso no rosto e a curiosidade brilhando em seus olhos metálicos, não conseguiu conter o entusiasmo e respondeu alegremente:
- Que intrigante, posso dizer que aguardava essa oportunidade - disse ele, sentindo-se acolhido e compreendido.
Um silêncio peculiar pairou sobre a sala. Por um momento, parecia que o tempo parava, mas logo o Garoto Alegre foi tomado por uma enxurrada de perguntas, sua mente recém-desperta ávida por conhecimento e histórias daqueles que estavam à sua volta.
Durante o percurso até sua nova casa, o Garoto Alegre havia notado algo que lhe despertara grande curiosidade. Do alto das colinas, algumas construções reluziam ainda mais intensamente do que as da vila de cobre. As casas tinham um brilho distinto, um tom prateado e altivo, refletindo o céu em uma beleza quase sobrenatural. Ele não resistiu à pergunta que lhe pulsava no peito:
- De quem são as casas nas montanhas? - questionou, seus olhos brilhando de interesse.
O Sério de Cobre ergueu o olhar, contemplativo, e respondeu pausadamente, como se as palavras carregassem um peso difícil de suportar:
- Eles estão acima de nós. Receberam oportunidades diferentes. Lá se encontra a Família de Ferro, mais resistentes e reluzentes, destinados a brilhar nos picos mais altos.
O Garoto Alegre olhou para as montanhas com um misto de admiração e fascínio. As casas de ferro, tão distantes e inatingíveis, pareciam guardiãs de um segredo além de sua compreensão. No entanto, apesar da distância, algo em seu coração de cobre reluzia com esperança e entusiasmo, como se pressentisse que, mesmo em seu pequeno mundo de cobre, havia muito a descobrir e experimentar, além do que a vista alcançava. Ele sabia, em seu âmago, que sua curiosidade o guiaria para novos horizontes.