Capítulo 2: O Teste
Ele continua na sala branca, e a luz parece ficar cada vez mais intensa, a ponto de deixá-lo tonto. Seus olhos mal podem focar, e uma sensação de opressão cresce dentro dele. Então, a voz retorna – fria, metálica, cortante.
"Quem pensa que é para questionar o sistema?"
Ele se sobressalta, mas tenta manter a calma. Olha ao redor, procurando a origem da voz, mas tudo que encontra são paredes brancas e uma luz que parece penetrar até sua alma. A voz volta, agora com uma intensidade mais ameaçadora.
"De onde tirou essa presunção de que há algo além deste mundo? Que direito tem de se diferenciar dos outros?"
Ele tenta responder, mas as palavras lhe escapam. Como explicar o vazio que sente ao viver numa sociedade conformada? Como justificar o desejo incontrolável de entender mais, de ser mais? As perguntas da voz parecem sondar o que há de mais profundo dentro dele, arrancando suas certezas.
"Eu... eu só queria entender,"
balbucia ele, sua voz trêmula, enquanto luta para organizar seus pensamentos.
"Entender? O entendimento é inútil. O sistema é a única verdade. A sua busca por sentido é uma ameaça."
As palavras pesam como aço sobre ele. Sente o peito apertar, a mente confusa, mas tenta resistir. Por que sua curiosidade seria uma ameaça? Não fazia sentido – ou talvez fizesse, mas era um sentido que ele se recusava a aceitar.
A voz não o deixa respirar. Mais perguntas surgem, cada vez mais penetrantes, como se tivessem o propósito de dilacerar sua própria essência.
"E se o mundo fosse como você deseja? Caótico, imprevisível, cheio de perguntas sem respostas? Por que acha que esse seu desejo de mudança é válido?"
Ele coloca as mãos na cabeça, o desespero crescendo. A voz invade seus pensamentos, contorcendo-os até que ele quase não se reconheça. A dúvida se infiltra, poderosa, corroendo seu último resquício de confiança.
"Não é um desejo,"
ele responde, a voz baixa e derrotada.
"É uma necessidade."
Um silêncio pesado cai sobre a sala, como se a voz estivesse avaliando sua resposta. A pausa é mais aterrorizante que os próprios questionamentos, pois ele sabe que algo está sendo decidido.
"Interessante. Talvez você sirva para algo."
Ele ergue a cabeça, confuso e ainda mais amedrontado. Serve para algo? O que isso significa? Mas antes que possa perguntar, a voz continua:
"Daremos a você uma chance de se provar. Seu desejo de entender será usado – para um propósito muito maior. Está disposto a abrir mão de si mesmo em nome disso?"
Ele hesita. O medo e a confusão o imobilizam, mas um lampejo de esperança surge em meio à escuridão. Talvez isso fosse uma oportunidade para descobrir o que realmente se esconde por trás do sistema. Mas e se tudo isso fosse apenas mais um truque? Mais uma forma de manipulá-lo?
"E... o que vocês querem que eu faça?"
A sala branca permanece em silêncio, como se a própria luz estivesse aguardando sua decisão. A voz responde, fria e impassível, mas agora com uma curiosa nota de expectativa.
"Tudo a seu tempo. Primeiro, deve mostrar que é mais do que uma falha."
A voz desaparece, deixando-o novamente em silêncio. Ele sente o peso de suas palavras, como se tivesse acabado de fechar um pacto sem sequer compreender as consequências. Seu coração bate forte, mas, ao mesmo tempo, uma estranha determinação começa a se formar.
Se sua racionalidade é uma ameaça ao sistema, ele está pronto para usá-la. O próximo passo o aguarda, e ele mal consegue prever o que essa missão misteriosa pode envolver, mas sabe que sua busca por respostas está apenas começando.